20 junho, 2011

A Identidade Virtual e a Autenticidade e Transparência no Ciberespaço.

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Com o surgimento de um ciberespaço dinâmico onde milhões de pessoas partilham informação, desenvolvem relações pessoais e criam os seus próprios espaços de expressão individual, é relevante reflectir sobre estas acções. Numa época em que à distância de um clique acedemos a informação que pretendemos, cabe-nos ter uma consciência sobre o que tomamos por garantido nesse ciberespaço.
Será a informação realmente autêntica? Serão as pessoas e identidades autênticas? Como analisar essa autenticidade? Pela sua transparência ou autenticidade? E como decifrar comportamentos?
São muitas as questões que surgem quando nos desafiamos a pensar sobre a "Verdade na Web". Irei, neste post, reflectir sobre alguns destes aspectos, nomeadamente sobre a identidade, a autenticidade e transparência. 

No Mundo real existe um representação inequívoca do Eu, pois o nosso corpo fornece uma materialização da nossa personalidade e identidade. A norma é: um corpo, uma identidade. Está ali uma pessoa. Embora essa identidade possa ser mutável e complexa durante os anos, a nossa personalidade e sentimentos estão expressos no nosso corpo. No ciberespaço é diferente, pois a nossa identidade é representada por informação, e não por matéria física. A informação espalha-se e é difundida. Os habitantes desse ciberespaço são difusos, livres do seu corpo. Criam uma identidade digital - persona - que se enquadra num contexto, ou vários, existentes no ciberespaço. Seja uma comunidade de jogadores online, uma rede social, uma comunidade de aprendizagem ou até um fórum online, poderemos encontrar as mais variadas personas. Inclusive, uma pessoa pode ter várias representações de si própria no ciberespaço, personificados em alter-egos da sua personalidade. 

Se a identidade é a representação de quem somos, isto é, aquilo que nos define como seres humanos, mais propriamente como pessoas; também é o que nós vemos, o que pensamos e o que os outros vêem em nós. Mas isso não a torna sempre autêntica, pois podemos manipular o que os outros vêem em nós e o que nós queremos ver em nós mesmos. Podemos desde já perceber que o conceito de identidade pessoal é bastante complexo. Há várias abordagens na forma como as pessoas se representam no ciberespaço, ora adoptando uma abordagem autêntica do seu Eu ou personificando um alter-ego, uma representação imaginária de si próprio. Estas diferentes abordagens são visíveis em todo o ciberespaço, mas existe uma comunidade em concreto, em que a criação de uma identidade digital ganhou mais destaque: Second Life.

Exemplos de diferentes abordagens na criação de um identidade digital, neste mundo virtual em concreto identificadas como avatares, poderão ser observadas no seguinte vídeo, trailer do documentário de 2011 "Life 2.0".






Neste exemplo temos vários tipo de manifestações de identidade digitais: 
1. O casal que representa-se de forma semelhante à sua vida real, mas que através do SL conseguiu desenvolver uma relação d afectividade (um das principais razões de adesão a estas comunidades online).
2. A profissional de design em SL que se representa numa versão moderna de si mesma, embora mantendo algumas semelhanças físicas. 
3. O completo oposto de representação de um homem adulto, na forma de uma adolescente de 14 anos. 

Será, então, que a nossa identidade ou prolonga-se ou completa-se com a digital? Segundo Baudrillard “ao tentar pensar sobre mim próprio estou a criar um simulacro sobre aquilo que realmente sou. A minha identidade digital, por mais transparente que eu queira, estará sempre sujeita à noção que tenho do eu.” Estas intrínsecas ligações entre a identidade real e a identidade digital colocam, no entanto, em questão o problema da autenticidade.

Ser autêntico, segundo uma abordagem filosófica, é uma forma particular de lidar com um mundo exterior, sendo fiel as suas próprias ideais, em vez de ideias externas (http://en.wikipedia.org/wiki/Authenticity).
Se analisarmos os exemplos anteriores, poderemos considerar que todas as pessoas foram autênticas por seguirem as suas próprias ideias, com o intuito de lidarem com um mundo virtual, onde a identidade virtual é a sua forma de encarnação do EU.
Embora sejam autênticas nas suas manifestações de identidade digital, nem todas revelam um factor importante de suas personalidades, não são transparentes.  


Transparência é usualmente descrita como a ausência de roupagem, onde alguém se esconde alguém através de uma falsa persona. Quando deixamos os outros verem a nossa identidade real, afirmamos que a nossa identidade é transparente. Mas o questão que surge neste caso, é que não existe uma identidade standart que possamos usar, simultaneamente, para permitir transparência, que nos permita adaptar a nossa identidade à situação e balançá-la com o nosso desejo/necessidade de privacidade e descrição.

Exemplo disso é o que ocorre no Facebook, por exemplo. Nesta rede social, muitas pessoas usam a sua identidade real como a sua persona, relacionando-se com outras de forma a mostrarem-se genuínas, seleccionando, no entanto, que parte de si próprio querem mostrar.
A grande maioria de utilizadores nas redes sociais revelam-se como indivíduos reais. Desejam e expressam-se como autênticos. Participam em diferentes grupos de amigos, colegas ou profissionais. No entanto, eles estilizam conversações e comportamentos, consoante os grupos em que participam, revelando diferentes facetas de si próprios. Para representar um pouco melhor a razão da adesão ao Facebook e alguns dos comportamentos nele existentes, partilho o seguinte vídeo:






Estaremos, neste caso, a observar um fenómeno de super transparência e autenticidade, ou outro tipo de manifestação de uma identidade digital camaleónica, adaptável às circunstâncias. Será uma verdadeira identidade ou representações diferenciados do complexo ser que é o Ser Humano. 

Quer seja um mundo virtual, quer seja uma rede social, existe sempre a necessidade de se criar uma identidade de nós próprios no ciberespaço. Como é criada, depende de cada indivíduos, seja autêntico, transparente ou de confiança, não cabe a mim julgar. 
Mas que a sociedade e as relações humanas nunca antes ficaram tão expostas, essa é uma realidade indiscutível.


Algumas Referências: 




Trabalho realizado no âmbito do Mestrado Pedagogia do eLearning da Universidade Aberta.

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